Este Artigo é uma Prática de Pesquisa Cientifica cujo os Saberes são de Construção do Conhecimento.
Nas pesquisas sobre história da psicologia em que se pensa o movimento da Escola Nova no recorte implementado pelo Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), remete-se sempre ao lugar de destaque que a psicologia recebeu dos saberes pedagógicos no período. Ao desenvolver uma pesquisa sobre o Instituto de Educação do Rio de Janeiro (IERJ) entre 1932 a 1938, pude perceber que o foco central das reformas escolares recaiu sobre a formação de professores, com o intuito de produzir uma nova mentalidade do professorado para que uma transformação real pudesse ocorrer nas escolas. Essa transformação, no entanto, passava por uma mudança primordial em três aspectos básicos e indissociáveis que constituem a atuação docente: a forma de lidar com os conteúdos das matérias; os métodos que são utilizados; e a concepção de aluno que permeia tal prática.
Para analisar a tríade conteúdo-método-aluno em sua perspectiva de implementação de uma nova cultura pedagógica no professorado, lançarei mão da Escola Primária do Instituto de Educação do Rio de Janeiro como um dispositivo da reforma do ensino por sua dupla configuração: como escola municipal comum no Rio de Janeiro, quando ainda era Distrito Federal, e como escola que se diferenciava das demais por funcionar como local de pesquisas sobre educação escolar e de Prática de Ensino das professorandas da Escola de Professores do IERJ.
A periodização deste trabalho traz como pontos de referência a gestão de Lourenço Filho na Direção Geral do Instituto de Educação do Rio de Janeiro e a gestão de Anísio Teixeira no Departamento de Educação do Distrito Federal, âmbito da criação e consolidação das práticas de formação de professores no IERJ (1932-1938). O corpo documental constitui-se, principalmente, de três conjuntos de fontes presentes nos Arquivos Lourenço Filho e Anísio Teixeira, ambos do CPDOC/FGV, e no Arquivo Morto do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro.
Como referencial teórico-metodológico, recorremos tanto à proposta de análise arqueológica de Foucault (1986), na qual se privilegia a constituição dos discursos a partir de suas inter-relações e articulações institucionais, quanto a uma análise genealógica (Foucault, 1979, 2001), na qual os discursos são apresentados em sua relação com o poder, situando-se como elementos de um dispositivo de natureza estratégica.
Levando em consideração as especificidades das instituições escolares, recorro ao aporte teórico sobre cultura escolar proposto por Viñao Frago (1998), Julia (2001), Carvalho (1998; 2002) e Chartier (2002) para balizar as análises. Dentre vários blocos de análise sugeridos pelos autores referidos, destaco as Instituições e Sistemas Educacionais, que devem ser estudados a partir da interação entre o institucional-organizativo e o cultural através da análise tanto das tendências e forças internas da escola quanto do sistema normativo imposto de fora da mesma; e as Práticas, que devem ser analisadas em suas continuidades e inércias, em sua forma rotineira, pois são modos de atuar sedimentados ao longo do tempo, adaptados e interiorizados de um modo automático e não reflexivo por professores e alunos. Esses modos de atuar são gerados na e pela própria instituição escolar, formando uma cultura institucional mais ampla.
Por se tratar do estudo que tem por base as práticas de ensino, o recorte privilegiado para a análise não se localiza nem na Escola de Professores nem na Escola Primária do Instituto de Educação, mas na tensão dessas duas Escolas. Nessa tensão, há, no entanto, um elemento extra que desloca a tensão localizada entre dois pólos para uma tensão que se estabelece como uma rede, isto é, a Escola Primária do Instituto de Educação está inserida no conjunto das escolas públicas primárias do Distrito Federal apresentando dois movimentos distintos, porém concomitantes: por um lado, aproxima-se das demais escolas do Distrito Federal pela reforma que ali se empreende na instrução pública visando à transformação da função social da escola primária, locus privilegiado para a transformação da sociedade; por outro lado, diferencia-se das demais escolas primárias municipais para que pudesse demonstrar a viabilidade de realização do projeto de renovação educacional.
Fonte: Temas em Psicologia acesso em 03/03/2014 ás 11h59min.
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