Início da Docência
Investigando Professores do Ensino Fundamental
Seus estudos sobre o desenvolvimento da carreira docente permitem identificar como se caracteriza o ciclo de vida dos professores. De acordo com o autor, o professor passa por uma fase de sobrevivência e descoberta ao iniciar seu percurso profissional, avançando, gradativamente, para uma fase de estabilização, quando começa a tomar uma maior consciência do seu papel. Esse ciclo, conforme o autor, não se constitui em etapas fixas, mas sim num processo dinâmico e bem peculiar (HUBERMAN, 1992). Baseado nos estudos do autor, o quadro a seguir caracteriza cada uma das fases de vida dos professores e o período que, em média, perduram.
Vale ressaltar que o olhar desta pesquisa está direcionado para a fase de exploração, ou seja, os primeiros anos de docência que contribuem (ou não) para a constituição da profissionalidade do professor.
Marcelo (1992, 1999) muito contribui para a discussão da fase inicial na docência. Em suas pesquisas, faz importantes descobertas sobre os desafios, angústias, descobertas, aprendizagens da iniciação nessa atividade profissional. Para o autor:[…] o ajuste dos professores a sua nova profissão depende […] das experiências biográficas anteriores, dos seus modelos de imitação anteriores, da organização burocrática em que se encontra inserido desde o primeiro momento da sua vida profissional, dos colegas e do meio em que iniciou a sua carreira docente (MARCELO, 1999, p. 118).
Isso quer dizer que os professores já trazem consigo muitas experiências sobre o ser professor, desde a sua própria trajetória como estudante, nas séries anteriores à formação inicial, bem como as novas vivências culturais que se engendram no espaço escolar e na interação com os colegas professores e estudantes.
As primeiras experiências vivenciadas pelos professores em início de carreira têm influência direta sobre a sua decisão de continuar ou não na profissão, porque esse é um período marcado por sentimentos contraditórios, que desafiam cotidianamente o professor e sua prática docente. Essa fase é também marcada por intensas aprendizagens que possibilitam ao professor a sobrevivência na profissão (MARCELO, 1992; CAVACO, 1995; LIMA, 2006).
Discutir o início da carreira docente perpassa pela discussão de um campo maior: a formação de professores. Para Romanowski:
- A formação assume maior relevância para os professores principiantes, pois é neste período que ocorre uma intensificação do aprendizado profissional e pessoal, a transição de estudante para professor, a condição de trabalho leigo para profissional, de inexperiente para expert, de identificação, socialização e aculturação profissional (2012, p. 01).
Sem uma adequada formação, os professores terão dificuldade de contribuir, de forma efetiva, para o desenvolvimento de uma escolarização mais adequada e a redução dos índices de evasão e reprovação. Daí a necessidade de programas de formação continuada que visem proporcionar novas aprendizagens e interlocuções desses profissionais. Em se tratando do período inicial da carreira dos professores, essas preocupações se acentuam em razão de as instituições formadoras e os sistemas de ensino, em sua maioria, não darem muita atenção a essa etapa da vida profissional.
Compreende-se que investir na formação de professores é investir na melhoria dos processos de ensino e aprendizagem. Romanowski traz uma informação que precisa ser destacada:
- No Brasil, o número de professores iniciantes é elevado, muitos não possuem formação adequada e assumem a docência em condições precárias. Esta situação é agravada pela falta de políticas e programas direcionados a este período de iniciação do desenvolvimento profissional do professor, em que se intensificam as incertezas das escolhas feitas e as primeiras sistematizações práticas, conforme apontam os estudos realizados a este respeito (ROMANOWSKI, 2012, p. 1).
Diante do exposto, percebe-se que os professores em início de carreira necessitam de um acolhimento adequado, seja por meio das escolas ou das redes de ensino, que contemple uma formação continuada e um acompanhamento do trabalho desses docentes, tendo como foco central o desenvolvimento profissional.
CAMINHO METODOLÓGICO
Com o objetivo de conhecer o início da docência dos professores do ensino fundamental da rede pública municipal de ensino, a presente pesquisa delineou-se por meio dos aportes da abordagem qualitativa. Gatti e André (2010, p. 30) afirmam que as pesquisas chamadas qualitativas:
- […] vieram a se constituir em uma modalidade investigativa que se consolidou para responder ao desafio da compreensão dos aspectos formadores/formantes do humano, de suas relações e construções culturais, em suas dimensões grupais, comunitárias ou pessoais. Essa modalidade de pesquisa veio com a proposição de ruptura do círculo protetor que separa pesquisado e pesquisador, separação que era garantida por um método rígido e pela clara definição de um objeto, condição em que o pesquisador assume a posição de ‘cientista’, daquele que sabe, e os pesquisados se tornam dados – por seus comportamentos, suas respostas, falas, discursos, narrativas etc. traduzidas em classificações rígidas ou números-, numa posição de impessoalidade. Passa-se a advogar, na nova perspectiva, a não neutralidade, a integração contextual e a compreensão de significados nas dinâmicas histórico-relacionais.
O lócus da pesquisa é a Rede Municipal de Ensino, de uma cidade do Estado de Santa Catarina. A rede oferece Educação Infantil, Ensino Fundamental, anos inicial e final, e Educação de Jovens e Adultos. Os professores participantes da pesquisa atuam no ensino fundamental: anos iniciais e finais.
Foram convidados 199 professores, concursados, que ingressaram na rede pública municipal de ensino entre os anos de 2009 e 2011, isto é, com até três anos de experiência profissional. O tempo de ingresso dá-se pelo fato de que os professores encontram-se na fase de exploração, descrita por Huberman (1995). Os critérios para a seleção dos professores investigados foram os seguintes: recém-formados (independente da formação, idade, sexo e carga horária) e que atuassem no ensino fundamental.
Como instrumento para a coleta de dados, utilizou-se um questionário que, segundo Marconi e Lakatos (2003, p.201), é um “instrumento […] constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador”. O roteiro foi composto por 26 perguntas, sendo 16 fechadas e 08 abertas. De acordo com Severino (2008, p.125), questões abertas são aquelas nas quais “o sujeito pode elaborar as respostas, com suas próprias palavras, a partir de sua elaboração pessoal” e as fechadas onde “[…] as respostas serão escolhidas dentre as opções predefinidas pelo pesquisador”.
Fonte: Editora Autêntica acesso em 01/08/2014.
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