quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

TEORIA PASICANALÍTICA DE FREUD


Acredita que os conflitos fazem parte do desenvolvimento humano, portanto procura descrever as causas dos transtornos mentais. O sistema freudiano trouxe o conceito de inconsciente em uma teoria da sexualidade. Estruturou o aparelho psíquico como um iceberg, onde o submerso – inconsciente – não é voluntariamente controlado.                                 
A consciência do ser humano é descrita por Freud em três níveis:

O consciente: abarca todos os fenômenos que em determinado momento podem ser percebidos de maneira conscientes pelo indivíduo;

O pré-consciente: refere-se aos fenômenos que não estão conscientes em determinado momento, mas podem tornar-se, se o indivíduo desejar se ocupar com eles;

O inconsciente: diz respeito aos fenômenos e conteúdos que não são conscientes e somente sob circunstâncias muito especiais podem tornar-se.

Os sonhos são vistos como expressão simbólica dos conteúdos inconscientes. Muitos desejos, sentimentos e motivações são inconscientes, mas podem influenciar e guiar o comportamento consciente.

O aparelho psíquico, na teoria freudiana, é composto por três níveis estruturais que compõe a personalidade:

Id: O id é a fonte da energia psíquica (libido). O id é formado pelas pulsões - instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes. Ele funciona segundo o princípio do prazer, ou seja, busca sempre o que produz prazer e evita o que é aversivo. O id desconhece juízo, lógica, valores, ética ou moral, é completamente inconsciente.

Ego: O ego desenvolve-se a partir do id com o objetivo de permitir que seus impulsos sejam eficientes, ou seja, o ego permite o id levando em conta o mundo externo. É o chamado princípio da realidade. Esse princípio introduz a razão, o planejamento e a espera ao comportamento humano. A satisfação das pulsões é retardada até o momento em que a realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de consequências negativas. A principal função do ego é buscar uma harmonização, inicialmente entre os desejos do id e a realidade e, posteriormente, entre os desejos do id e as exigências do superego.

Superego: É a parte moral da mente humana e representa os valores da sociedade. O superego tem três objetivos: (1) inibir (através de punição ou sentimento de culpa) qualquer impulso contrário às regras e ideais; (2) forçar o ego a se comportar de maneira moral (mesmo que irracional) e (3) conduzir o indivíduo à perfeição - em gestos, pensamentos e palavras. O superego forma-se após o ego, durante o esforço da criança de apreender os valores recebidos dos pais e da sociedade. Ele pode funcionar de uma maneira bastante primitiva, punindo o indivíduo não apenas por ações praticadas, mas também por pensamentos.

A função do ego é tentar harmonizar a ação do id, do mundo exterior e do superego Para isso, pode fazer uso dos mecanismos de defesa. Esses conceito foram melhor desenvolvidos pela filha de Freud, Ana. Os principais mecanismos de defesa são:

* Repressão: processo pelo qual se afastam da consciência conflitos e frustrações demasiadamente dolorosos para serem experimentados ou lembrados, reprimindo-os para o inconsciente;

* Formação reativa: consiste em ostentar um procedimento e externar sentimentos opostos aos impulsos verdadeiros, indesejados.

* Projeção: consiste em atribuir a outros as ideias e tendências que o sujeito não pode admitir como suas.

* Regressão: consiste em a pessoa retornar a comportamentos imaturos, característicos de fase de desenvolvimento que a pessoa já passou.

* Fixação: congelamento no desenvolvimento, que é impedido de continuar. Uma parte da libido permanece ligada a um determinado estágio do desenvolvimento e não permite que a criança passe completamente para o próximo estágio. A fixação está relacionada com a regressão, uma vez que a probabilidade de uma regressão a um determinado estádio do desenvolvimento aumenta se a pessoa desenvolveu uma fixação nesse estádio.

* Sublimação: a satisfação de um impulso inaceitável através de um comportamento socialmente aceito.

* Identificação: processo pelo qual um indivíduo assimila um aspecto, uma característica de outro. Uma forma especial de identificação é a identificação com o agressor.

* Deslocamento: processo pelo qual agressões ou outros impulsos indesejáveis, não podendo ser direcionados à(s) pessoa(s) a que se referem, são direcionadas a terceiros.

A teoria psicanalítica defende que o desenvolvimento psicossocial do indivíduo inicia desde os primeiros anos de vida, em fases ou estágios psico-sexuais definidas por regiões do corpo, nos quais surgem necessidades que exigem ser satisfeitas. A maneira como essas necessidades são satisfeitas determina como a criança se relaciona com outras pessoas e quais sentimentos ela tem para consigo mesma. As fases se seguem umas às outras em uma ordem fixa e, apesar de uma fase se desenvolver a partir da anterior, os processos desencadeados em uma fase nunca estão plenamente completos e continuam agindo durante toda a vida da pessoa.

1. Fase oral (do nascimento até aproximadamente um ano de vida)
Nessa fase a criança vivencia prazer e dor através da satisfação ou frustação de pulsões orais, ou seja, pela boca. Essa satisfação se dá independente da satisfação da fome. Para a criança, sugar, mastigar, comer, morder, cuspir etc. têm uma função ligada ao prazer, além de servirem à alimentação. A fase oral se divide em duas fases menores, definidas pelo nascimento dos dentes. Antes, passiva-receptiva; com os primeiros dentes a criança passa a uma fase sádica-ativa através da possibilidade de morder.


2. Fase anal (aproximadamente do primeiro ao terceiro ano de vida) 
Nessa fase a satisfação das pulsões se dirige ao ânus, ao controle da tensão intestinal. A criança tem de aprender a controlar sua defecação e, dessa forma, deve aprender a lidar com a frustração do desejo de satisfazer suas necessidades imediatamente.

3. Fase fálica (dos três aos cinco anos de vida)
Essa fase se caracteriza pela importância da presença (ou, nas meninas, da ausência) do falo ou pênis. Prazer e desprazer estão centrados na região genital. As dificuldades dessa fase estão ligadas ao direcionamento da pulsão sexual ao genitor do sexo oposto e aos problemas resultantes. A resolução desse conflito está relacionada ao complexo de Édipo e à identificação com o genitor de mesmo sexo.
O complexo de Édipo é caracterizado por sentimentos de amor e hostilidade, quando ocorre a diferenciação do sujeito em relação aos pais. A criança começa a perceber que os pais pertencem a uma realidade cultural e que não podem dedicar-se apenas a ela porque possuem outros compromissos.

Nessas fases, ao ser confrontada com frustações, a criança é obrigada a desenvolver mecanismos para lidar com tais frustações. A maneira como a criança atravessa essas fases e as reações dos familiares perante suas ações constituem mecanismos que são a base da futura personalidade da pessoa.

4. Período de latência (até a puberdade)
Trata-se de uma fase mais tranqüila, onde as fantasias e os impulsos sexuais são reprimidos, tornando-se secundários, e o desenvolvimento cognitivo e a assimilação de valores e normas sociais se tornam a atividade principal da criança, continuando o desenvolvimento do ego e do superego.

5. Fase genital (durante a adolescência, estendendo-se até a vida adulta)
Nessa última fase as pulsões sexuais, acompanhando a maturação biológica, despertam-se novamente e são dirigidas a uma pessoa do sexo oposto. A escolha do parceiro não se dá independente dos processos de desenvolvimento anteriores, mas é influenciada pela vivência nas fases antecedentes. Além disso, apesar de continuarem agindo durante toda a vida do indivíduo, os conflitos internos típicos das fases anteriores atingem na fase genital uma relativa estabilidade conduzindo a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os desafios da idade adulta.

Fonte: Psicanálise Freudiana

domingo, 6 de dezembro de 2015

CONSTRUINDO SUA HIPÓTESE

                  COMO PESQUISAR E COnstruir sua PESQUISA 
Tanya Torrico
Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

PSICANÁLISE PARA CRIANÇAS - COMO RECURSO TERAPÊUTICO

Introdução



A infância é a fase onde o individuo acumula vivências e experiências que lhe servirão de base na construção da sua subjetividade, desse modo, também é neste período que o individuo começa a estruturar a sua personalidade. Sabe-se que alguns transtornos podem prejudicar esse processo, entre os transtornos mais comuns na infância estão os de ansiedade, de humor, de déficit de atenção e hiperatividade e os globais do desenvolvimento, como o autismo.
Quando o psicanalista propõe uma sessão analítica aproximada do brincar, feita em um ambiente de confiança e relaxamento e que visa à descoberta e construção do eu, ele faz isto de um modo que sustenta certa posição sobre a psicopatologia. Estamos diante de uma visão radical que entende que todos nós estamos imersos na psicopatologia e na saúde ao mesmo tempo, onde Winnicott nos esclarece que “é importante para nós não encontrarmos clinicamente qualquer linha nítida entre a saúde e o estado esquizóide ou mesmo entre a saúde e a esquizofrenia plenamente desenvolvida”. (WINNICOTT, 1975, p.96).
É importante ressaltar que fazendo uma revisão da literatura acerca do tema, percebemos que as teorias sobre o complexo de Édipo, tanto em Freud, Klein, Winnicott e Lacan, apresentam a concepção de um sujeito marcado pelo universo da castração. É a partir da castração que a sexualidade infantil encontra um ponto de ordenação, e é essa ordenação que oferece condições de construção da identidade sexual.
Segundo Freud, 1905, p.161 "(...) apenas impulsos sexuais impregnados de desejo oriundos da infância, que experimentaram repressão (...) durante o período de desenvolvimento infantil, são capazes de ser revividos durante períodos de desenvolvimento posteriores (...) e acham-se assim aptos a fornecer a força motivadora para a formação de sintomas (...).” O infantil é o que fica sob a barra da censura, e esse infantil não é senão o sexual, para Freud sempre traumático. O sintoma aparece no lugar do trauma sexual, e nisso as articulações iniciais de Lacan não fazem senão retomar Freud.
A partir do Complexo de Édipo, e da forma como o sujeito lida com a castração é que vai constituir as estruturas, a saber, neurótica, psicótica ou perversa e a partir delas é que podem surgir psicopatologias ou não, as mais diversas.

A Psicanálise de Crianças

Ao pesquisar sobre psicanálise de crianças sempre é citada o nome de Hermine Von Hug-Hellmuth, pois lhe é atribuído o mérito de ser a primeira psicanalista de crianças. Hellmuth, 1921, apud, Avellar, pag. 28, “reconhece a importância da comunicação da criança na primeira sessão, considerando que esta comunicação contém o complexo nuclear da neurose infantil. Valoriza a utilização do brincar e da ação simbólica como forma de permitir o desvelamento dos sintomas e da problemática da criança”.
Logo após Hug-Hellmuth, Melanie klein e Anna Freud também passaram a estudar o tema e a utilizar em sua prática clínica. Melanie Klein, por exemplo, analisava seus filhos observando-os brincar. Para Klein, apud, Roza, 1993, a problemática da criança não é algo que depende das suas relações com o ambiente, mas é o produto da sua própria constituição interna. Anna Freud, apud, Roza, 1993 fez várias críticas ao método utilizado por Klein, discordando disso e pontuando que na clínica psicanalítica, o brincar não poderia ser usado como método de associação livre, pois o psiquismo das crianças é diferente dos adultos. Também questionou o papel do analista, dizendo que se este parasse para observar as crianças brincando, fugiria às regras técnicas da psicanálise deixadas por seu pai, Sigmund Freud. Para Anna Freud, o papel do analista seria confundido com o de pedagogo ou professor, confundiria ainda o papel da escuta com o da disciplina.
Para Winnicott, o brincar é universal, uma forma básica de viver, e é somente no brincar que o indivíduo pode ser criativo. O referido autor nos diz que “viver criativamente constitui um estado saudável, e a submissão é uma base doentia para a vida” (WINNICOTT, 1975, p. 95).
A forma como Winnicott concebe o brincar tem a ver com dois tempos. No primeiro tempo, o bebê e o objeto estão juntos. A visão do objeto que o bebê tem é subjetiva. A mãe suficientemente boa se orienta para concretizar aquilo que o bebê busca, a isto, Winnicott chama de criatividade primária, que só é possível mediante uma ação de muito amor da mãe na direção de seu bebê, uma ação que só aos poucos se desfaz.
No segundo tempo, o objeto é ignorado como não-eu, aceito de novo e objetivamente percebido. Neste tempo, a mãe devolve ao bebê o objeto que ele ignorou. A mãe oscila entre ser o que o bebê busca e ser ela própria, aguardando ser encontrada. Se a mãe tem sucesso no exercício destes papéis, então o bebê vive a experiência da onipotência, o que o prepara para a futura desilusão necessária. Quando a mãe tem uma relação de sintonia inicial com o bebê, estabelece-se um ambiente de confiança e o bebê brincacom a realidade.
Segundo Lacan, 1998, o inconsciente se estrutura como uma linguagem. Partindo desse ponto de vista, surge uma dúvida: como é possível fazer análise de criança se estas não conseguem verbalizar e fazer associações livres? Mas esta não é questão de embaraço para os analistas de criança como Françoise Dolto e Maud Mannoni, que continuaram fazendo seus trabalhos com criança e obtendo resultados, F. Dolto, por exemplo vai nos comunicar que no universo humano tudo é linguagem.
Eliza Santa Roza, médica pediatra e psicanalista, pesquisou sobre o tema, e para melhor entender essa questão coloca que as crianças não falam como os adultos, tem no jogo a sua forma preferencial de interpretação do mundo e do outro (SANTA-ROZA, 1993), sendo que a prova disso é a constituição da neurose infantil, sendo este o signo e a forma de constituição do sujeito do inconsciente.
É característico do comportamento infantil o brincar, por isso a psicanálise infantil tem a proposta de deixar a criança livre para se expressar da maneira que lhe convém, e provavelmente a criança irá brincar. Mesmo que o consultório não tenha brinquedos, ela faz de tudo um brinquedo, dessa forma, começa a se expressar brincando, através do brincar a criança irá expressar suas fantasias reprimidas, seu inconsciente. E, quando o brincar se dá de forma bizarra ou ele não aparece é sinal de que há alguma psicopatologia grave.

A Estrutura Inconsciente da Criança

Sendo a infância uma fase de descobertas e aprendizados, a criança desde que nasce está em constante aprendizado e a principal referência são os cuidadores, em especial a mãe, no qual para o bebê nos primeiros meses de vida tem a mesma como parte de si. Ao longo do seu desenvolvimento e ao passar por alguns estágios, é que o bebê vai percebendo o mundo externo e aprendendo por meio de outras fontes, exploração de objetos e outras pessoas que agora são referências. Ao passar por essas etapas seu psiquismo vai sendo formado, e a maneira como ele apreende o que lhe é marcado é estruturante para a formação da sua personalidade.
A perspectiva psicanalítica de Freud surgiu no início do século XX, dando especial importância às forças inconscientes que motivam o comportamento humano. Freud, baseado na sua experiência clínica, acreditava que a fonte das perturbações emocionais residia nas experiências traumáticas reprimidas nos primeiros anos de vida. Acreditava também que a personalidade forma-se nos primeiros anos de vida, quando as crianças lidam com os conflitos entre os impulsos biológicos inatos, ligados às pulsões e às exigências da sociedade. Considerou que estes conflitos ocorrem em fases baseadas na maturação do desenvolvimento psicossexual. Acreditava que o fato das crianças receberem muita ou pouca gratificação em qualquer uma das fases do desenvolvimento psicossexual, pode levar ao risco de fixação, uma parada no desenvolvimento, e podem precisar de ajuda para ir além do tempo dessa fase. Acreditava ainda que as manifestações de fixações na infância emergiam em adulto.
A infância é a época da vida em que há a maior capacidade de recepção e reprodução, na qual é muito comum a presença da amnésia que, segundo a Psicanálise é um recalcamento, ou seja, envio de conteúdos conscientes, os quais nos trazem sofrimento para o inconsciente, a fim de proteger o nosso psiquismo. A amnésia, na maioria das pessoas, encobre os conteúdos sexuais até os seis ou oito anos de idade.
Antes de falar sobre o desenvolvimento psicossexual infantil, nos Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905, 2006), Freud nos aponta três conceitos básicos que serão discutidos na sequência deste trabalho: zonas erógenas, pulsões e libido.
Freud considerava as zonas erógenas como fontes das diversas pulsões parciais, órgãos produtores da libido como a boca, pele, movimento muscular, mucosa anal, pênis, clitóris, sendo que em cada idade predomina uma zona erógena específica. As pulsões são inatas (instinto) e consiste na estimulação e satisfação da zona erógena específica de cada fase.
A libido é segundo Freud, a energia dos instintos sexuais enquanto a fase libidinal é a organização do desejo sexual em uma zona erógena específica. De acordo com Freud, o desenvolvimento psicossexual infantil organiza-se da seguinte forma: Auto-erotismo, anterior ao narcisismo, caracteriza-se por ser o “instinto sexual mais primitivo”, ou seja, a ausência de objeto sexual exterior.
Sobre as fases do desenvolvimento psicossexual temos a fase oral que vai desde o nascimento até os 2 anos de idade. Nesse período, a zona de erotização é a boca e o prazer está ligado à ingestão de alimentos, estimulação e excitação da mucosa dos lábios e da cavidade bucal e tem como objetivo a incorporação do objeto;
A fase anal inicia-se por volta dos 18 meses, estando situada entre os dois e quatro anos. Como o próprio nome diz, a zona de erotização é o ânus. Nesta fase será desenvolvido o modo de relação do objeto: “ativo” e “passivo”, o que está intimamente ligado ao controle dos esfíncteres (anal e uretral). Para Freud a defecação oferece prazer erótico à criança.
A fase fálica surge por volta do quarto ou quinto ano de vida, quando o foco do prazer muda do ânus para os genitais. Há o surgimento de perguntas como “Por que eu tenho pênis e as meninas não?”. Freud se ocupou desde 1909 da cura de uma criança de cinco anos, o pequeno Hans, atingida por uma neurose fóbica, medo de cavalos. Desde lá, o tratamento analítico com crianças vem sofrendo mudanças. Infelizmente, porém, muitos se afastaram do sentido dado ao sintoma, preocupando-se apenas com o real dele, não observando os conteúdos emocionais da criança que estão presentes.
O período de latência não é uma fase psicossexual de desenvolvimento, o instinto sexual está adormecido, temporariamente sublimado em atividades escolares, hobbies e esportes e no desenvolvimento de amizades com pessoas do mesmo sexo. Então, ao realizar a avaliação e acompanhamento psicológico de uma criança é necessário mergulhar no universo do desenvolvimento infantil e do brincar, pois se tratam de dois processos indissociáveis para um desenvolvimento saudável.
Segundo Lacan, 1998, p. 100  a função do estádio do espelho é estabelecer uma relação do organismo com a realidade. O estádio do espelho é um drama cujo impulso interno precipita-se da insuficiência para a antecipação e que fabrica as fantasias que se sucedem desde uma imagem despedaçada do corpo até uma forma de sua totalidade. O eu constrói-se à imagem do semelhante e primeiramente da imagem que lhe é devolvida pelo espelho. O bebê olha para a mãe buscando a aprovação do Outro simbólico. Lacan também enfatizou que o investimento da mãe, o olhar relacionado à imagem do filho que gostaria de ter, antecipa um sujeito que está por se constituir.
Por meio desse investimento externo sobre o psiquismo vai ocorrer um estado em que a criança investe toda sua libido em si mesma. A criança vai poder reconhecer-se. Lacan, 1976, diz que quando se constrói essa imagem de si mesmo, vai ser defendida como uma necessidade de satisfação narcísica, que se transformará na demanda de ser objeto do amor de um outro. O bebê antes do estádio do espelho se sente como um corpo fragmentado. Sua mãe faz parte dele e ela sente como se ele fosse parte dela. O bebê busca o prazer através do seio materno, porém só quando o bebê perde o objeto do seu desejo é que ele percebe que sua mãe não faz parte do seu corpo e não é completa. Esta perda vem através do significante do pai que são as leis e limitações naturais da vida.
A mãe primeiro satisfaz a criança com a amamentação e também pelos seus afetos, seus desejos, seus sintomas, que se estendem ao filho para serem simbolizados. Tudo isso que a mãe está propiciando ao bebê vai permitir sua sobrevivência psíquica. A mãe passa a lhe oferecer um olhar, palavras, toques carinhosos e isso vai construindo no bebê uma vida mental. Segundo Leda Bernardino, 2008, p.60 “ele vai estar vivendo experiências que tem significação, a partir do que o outro materno vai passando para ele como experiências boas ou ruins”.
O pai, enquanto função deve sustentar os atributos a ele conferidos pela mãe e se presentificar perante o filho para garantir a este a saída da totalidade materna. A função paterna possibilita a inserção do sujeito na cultura. Na ligação primeira com a mãe, o sujeito não se move para além daquele mundo mãe-bebê, onde o acolhimento e o vínculo instauram esta posição de um ser do outro, ou seja, um como extensão do outro:
“O pai priva alguém daquilo que, afinal de contas, ele não  tem, isto é, de algo que só tem existência na medida em  que se faz com que surja na existência como símbolo. O pai não castra a mãe de uma coisa que ela não tem. Para que fique postulado que ela não o tem, é preciso que isso de que se trata já esteja projetado no plano simbólico como símbolo. Mas há de fato uma privação, uma vez que toda privação real exige simbolização. Assim é o plano da privação da mãe que, num dado momento da evolução do Édipo, coloca-se para o sujeito a questão de aceitar, de registrar, de simbolizar, ele mesmo, de dar valor designificação a essa privação da qual a mãe-se objeto. ‘Essa privação, o sujeito infantil a assume ou não, aceita ou recusa’”. (Lacan, 1999, p 191, in Bernardino, 2008, pág. X)
É a partir dessa castração do pai, onde ele coloca a mãe no lugar de mulher e faz o filho perceber que ele não tem o falo (a mãe), é que a criança aceitando ou não essa condição, vai começar a se perceber como sujeito desejante e se estruturar enquanto sujeito. Portanto uma das principais contribuições da psicanálise é reconhecer a criança, desde a mais tenra idade, como um sujeito de si mesma, considerando aquele que se atende e/ou trata como sujeito de seus desejos inconscientes.

O Brincar na Clínica Psicanalítica

A criança, ao nascer, vem como um ser frágil, como um ser familiar, inédito. Dessa forma, há a necessidade da reorganização do tempo, do espaço, dos sentimentos e das expectativas. Então, de acordo com a hospitalidade recebida e com a relação desenvolvida entre o novo sujeito, a mãe e o pai (ou quem assuma a função dos cuidadores) estruturarão o psiquismo do sujeito.
Nos primeiros meses após o nascimento, a mãe (ou quem exerça a função materna), possui a função de ego auxiliar da criança. Dessa forma, o narcisismo deve ser alimentado pela mãe em relação ao bebê, pois tal investimento é fundamental para a construção de uma auto-imagem positiva. Além disso, é fundamental que a mãe e os demais cuidadores alimentem a questão narcísica não só através do amor, carinho e atenção destinadas à criança, mas também através da estimulação adequada e necessária para o desenvolvimento físico e psicossocial desse sujeito. Entretanto, para a estruturação do psiquismo neurótico, é imprescindível a frustração da questão narcísica no sentido de mostrar para a criança limites e o entendimento de que no mundo não deve imperar somente o seu desejo. Portanto, é através das frustrações que o sujeito irá aprender a canalizar os seus desejos, e assim, poderá desenvolver e vivenciar a ética em relação aos seus desejos e ao outro.
As brincadeiras oferecem uma maneira de entrar no universo infantil. Através do brincar, a criança acelera seu desenvolvimento. Através dessa atividade, ela aprende a fazer, a conviver e, sobretudo, aprende a ser. Além de instigar curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.
É importante esclarecer que brinquedo, brincadeira e jogo são termos que podem se confundir de acordo com o idioma utilizado. Em Português, brincar refere-se a uma atividade lúdica não estruturada. Segundo Vygotsky (1991), a brincadeira é uma situação imaginária criada pela criança e onde ela pode, no mundo da fantasia, satisfazer desejos até então impossíveis para a sua realidade. A brincadeira é simbólica, livre, não estruturada e tem um fim em si mesma, pois trata-se da brincadeira pelo prazer de brincar. Entretanto, todo tipo de brincadeira pode estar embutido de regras, pois a criança experimenta e assume as regras pré-estabelecidas e comportamentos baseados nas suas vivências. Dessa forma, o brincar favorece o desenvolvimento cognitivo, pois os processos de simbolização e representação levam ao pensamento abstrato.
O ato de brincar, além de proporcionar um melhor desenvolvimento, pode também incorporar valores morais e culturais, e assim, a criança será preparada para enfrentar o meio social.
É através das brincadeiras espontâneas que o ocorre o desenvolvimento da inteligência e das emoções, e assim, as crianças desenvolvem a sua individualidade, sociabilidade e vontades. A brincadeira é importante para incentivar não só imaginação e afeto nas crianças durante o seu desenvolvimento, mas também para auxiliar no desenvolvimento de competências cognitivas e sociais.
A participação nas brincadeiras em grupo também representa uma conquista cognitiva, emocional, moral e social para a criança e um estímulo para o desenvolvimento de seu raciocínio lógico. “A criança que brinca investiga e precisa ter uma experiência total que deve ser respeitada. Seu mundo é rico e está em contínua mudança, incluindo-se nele um intercâmbio permanente entre fantasia e realidade” (ABERASTURY, 1992. p. 55).
Através das brincadeiras em grupo, a criança aprende a conviver em grupo, desenvolve sentimentos de afetos, respeito. Segundo Melanie Klein (1997), ao brincar, a criança pode representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias e expressar seus conflitos inconscientes procurando superar experiências desagradáveis.
Os pais ou as pessoas que cuidam da criança têm fundamental influência no desenvolvimento dela, pois é durante muito tempo, o espelho da criança para que ela construa os seus recursos psíquicos para o enfrentamento da vida. Além disso, os cuidadores são os responsáveis por proporcionar a criança meios que estimulem o desenvolvimento da criança como um todo. Através do equilíbrio entre as relações de apego desenvolvidas com os pais e a resolução do Édipo a criança começa a construir a sua personalidade, que também sofre influência da cultura, da forma como a família e a sociedade tratam de forma diferenciada os sexos, os papéis sociais atribuídos.
Além dos fatores influenciadores já apresentados, é interessante explicitar que os irmãos e a convivência com outras crianças também influenciam no desenvolvimento psicossocial. A convivência com os irmãos pode influenciar de maneia positiva ou negativa, dependendo da postura dos pais diante dessa situação, principalmente no que diz respeito a “dividir o que têm” e ao ciúme. A convivência com outras crianças também se desenvolve nesse mesmo viés e também faz parte do mundo social da criança, até porque as crianças demonstram, principalmente após um ano de vida, interesse por pessoas que não são de dentro de casa, especialmente as do mesmo tamanho que elas.
O paciente traz para a sessão elementos de experiências oriundas da realidade socialmente sustentada e os usa como elementos de enriquecimento e transformação no campo transicional, com efeitos no mundo interno. A sessão sem que haja alucinação vira um espaço de passagem entre o mundo interno e o mundo externo, com duplo sentido, com potencial de criar ou recriar a transicionalidade infantil. Há interpretação dos fatos externos e internos e até uma manipulação deles a partir da experiência criada na sessão.
Em O brincar e a realidade, Winnicott fala de um paradoxo quanto trata de fenômenos transicionais e espaços potenciais. Ele apela contra o intelectualismo: “Minha contribuição é solicitar que o paradoxo seja aceito, tolerado e respeitado, e não que seja resolvido. Pela fuga para o funcionamento em nível puramente intelectual, é possível solucioná-lo, mas o preço disso é a perda do valor do próprio paradoxo. (WINNICOTT, 1975, p.10). Temos, portanto que “o brincar é essencial porque é através dele que se manifesta a criatividade” (Op. cit., p.80).
Em Lacan, o brincar é entendido como um ato, surgido como efeito da estruturação significante do Sujeito. O que importa é o brincar e não propriamente o brinquedo, pois o brincar faz a criança querer conhecer o outro.

Psicopatologias na Infância

Ao falar sobre psicopatologias é importante lembrar um pouco sobre os conceitos de normal e patológico. Essa é uma questão que preocupa mais aos filósofos do que os médicos, pois este último se preocupa mais em saber o que vai fazer por seu paciente sem saber se é normal ou patológico. No caso dos psiquiatras infantis, estes levam em consideração não só as queixas trazidas, mas, observam alguns aspectos na criança, antes de enquadrá-la em uma psicopatologia. Normal e patológico são termos indissociáveis, pois um não se define sem o outro. E, antes de dizer se algo é normal ou patológico é preciso observar vários aspectos da vida do sujeito, portanto não nos ateremos à questão do normal e do patológico.
A psicopatologia fundamental, conforme Fédida (1988) tem a ver com a descoberta de que nossa experiência psíquica é sempre sofrida. Tem a ver com a construção de uma visão singular desta dor de cada um, uma singularidade ligada à história do desejo e da frustração do desejo de cada um. Tem a ver com a aceitação criativa, não resignada, não submissa desta experiência de sofrimento e dor; está ligada à história de cada um que permite a fundação de si. A análise poderá ser um espaço de experiência e de criação de si, onde se aprende com a própria dor e se aprende a desistir de não sofrer.
Freud, desde cedo focou sua atenção no passado infantil de pacientes adultos neuróticos, pois a neurose de transferência está diretamente ligada à revivescência da neurose infantil e seu desenvolvimento caracteriza o desenrolar do tratamento. Na psicanálise a criança é o centro, mas é uma criança particular, pelo menos nos primeiros textos psicanalíticos, a criança pela qual a psicanálise se interessa é, em primeiro lugar, uma criança reconstruída, uma criança-modelo.
As principais psicopatologias da infância, como mencionadas no início do trabalho, são os transtornos de ansiedade, de humor, de déficit de atenção e hiperatividade e os globais do desenvolvimento, como o autismo e, alguns casos de psicoses graves.
A ansiedade constitui tanto em crianças como em adultos a porta de entrada para a maioria das condutas psicopatológicas. Na criança surgem as complexas relações entre ansiedade de separação, dita desenvolvimental e angústia de separação, dita patológica. As crianças ansiosas vivem permanentemente com um sentimento de apreensão, como se algo ruim fosse acontecer. Nas crianças pequenas até a puberdade a angústia de separação é a manifestação mais freqüente. Um exemplo de ansiedade fóbica é o Pequeno Hans. Essa angústia pode estagnar de acordo com o desenvolvimento da criança ou pode evoluir para fobias ou até mesmo para uma psicose.
A origem dos quadros de psicose infantil estaria na ocorrência de distorções no relacionamento mãe-bebê. Segundo Margareth Mahler (1983) parece haver crianças que devido a uma inerente fragilidade do ego desde o estágio de indiferenciação, tornam-se alienadas do meio ambiente. Essas seriam as crianças com “psicose autística infantil”, em que a mãe parece nunca ter sido percebida pela criança, nem como entidade emocionalmente significativa, nem como representante do não-eu.
A mãe deve funcionar como “ego-auxiliar” da criança. Quando a sustentação, conforme Winnicott, exercida pela mãe for bem sucedida, a criança a vive como uma “continuidade existencial”, no entanto, quando falha, o bebê terá uma experiência subjetiva de ameaça, que obstaculiza o desenvolvimento normal. A falta de holding adequado provoca uma alteração no desenvolvimento, cria-se uma casca (o falso self) em extensão da qual o indivíduo cresce, enquanto o núcleo (o verdadeiro self) permanece oculto e sem poder se desenvolver. O falso self surge pela incapacidade materna de interpretar as necessidades da criança. O desenvolvimento do falso self às custas do verdadeiro self, se relaciona a uma amplitude na escala de psicopatologia que irá desde sensações subjetivas de vazio, futilidade e irrealidade até tendências anti-sociais, psicopatia e psicoses.
Em 1970, Ajuriaguerra na 1ª edição do manual de psiquiatria infantil definiu a psicose infantil como um transtorno de personalidade dependente de um transtorno da organização de eu e da relação da criança com o meio ambiente, este trabalho sofreu revisões estando em sua 5ª edição e organização de Marcelli (1998), mas mantendo o principal da pesquisa e conceituações das edições anteriores.
Segundo Spackman (1998), as crianças com transtornos psiquiátricos apresentam vulnerabilidade no comportamento, afetividade e relacionamento interpessoal, estes aspectos devem ser vistos em primeiro lugar. O autismo é uma das formas mais comuns de psicose infantil e, traduz a incapacidade da criança em estabelecer um sistema adequado de comunicação com seu ambiente. Estas são descritas como calmas e felizes quando estão sós, não se manifestam, o olhar é vazio, ausente e é difícil fixar. Elas usam objetos como as pessoas, de maneira parcial, bizarra e não simbólica, em manifestações repetitivas. Ao longo de seu desenvolvimento muitas características vão surgindo, mas é necessário um acompanhamento terapêutico.
Contudo, analisando as patologias infantis e articulando à prática clínica de vários psicanalistas infantis percebemos que a psicanálise é uma teoria bem fundamentada para a análise de crianças, pois acompanha o desenvolvimento desta, chegando ao seu inconsciente através do brincar, pois brincando a criança projeta suas angústias e seu mundo psíquico na brincadeira, sendo possível o analista chegar ao inconsciente da criança.

Considerações Finais

Diante desta análise literária, foi possível evidenciar  que a psicanálise de criança sofreu muitas alterações desde a época de Freud até os dias atuais.  O brincar sempre foi o foco principal com este público, pois através dele a criança projeta seu mundo psíquico na brincadeira.
O setting terapêutico com crianças, principalmente em Winnicott é um espaço lúdico, de descoberta, de desfrute e acima de tudo prazeroso, tanto para o paciente como para o analista, onde este está ali junto à criança não para ela fazer associações livres verbais, pois em algumas vezes estas associações verbalizadas causam angústia na criança. Na brincadeira o analista está ali não como externo ao mundo do paciente, nem interno a ele, mas é um mediador para que a criança possa projetar na brincadeira sua patologia, seu mundo psíquico sem ter consciência total do que está acontecendo.
Contudo, afirmou-se a importância do ato de brincar para as crianças, pois através dele ela ressignifica suas angústias. Na análise, o brincar criativo é uma possibilidade da criança aquilatar sua realidade, onde ela pode  reorganizar suas experiências e perceber as mais diversas possibilidades diante da realidade vivida.


Artigo Postado 
TORRICO, Tanya (2015). Processos Terapêuticos com crianças e adolescentes.


sábado, 1 de agosto de 2015

Qual a importância da ABNT nos trabalhos acadêmicos?


As normas da ABNT são importantes nos trabalhos de pesquisa porque criam uma uniformidade, ou seja, um padrão que é facilmente compreendido por pesquisadores de todo o mundo.
A ABNT costuma revisar as suas regras e atualizá-las, através de comissão. As mudanças efetuadas são poucas, mas é muito importante que o estudante procure conhecê-las a fundo para adaptar a formatação dos seus trabalhos.

Regras da ABNT para TCC

Deixar o TCC ou monografia dentro das normas da ABNT  não é tarefa fácil. Além de conhecer as regras gerais, o estudante também precisa se informar sobre as exigências da sua universidade.

Estrutura do trabalho

Capa: deve conter o nome da instituição, curso, autor, título do trabalho, cidade e ano.
Folha de rosto: apresenta nome do autor, título, cidade e ano e uma breve nota descritiva, que deve conter o objetivo do trabalho e o nome do orientador.
Dedicatória/agradecimentos: espaço no qual o autor presta homenagens e faz agradecimentos.
Resumo: é um texto, de 150 a 500 palavras, que sintetiza em um único parágrafo as ideias do trabalho.
Sumário: serve para apresentar as enumerações das páginas e as respectivas seções do trabalho. O alinhamento é à esquerda, sem recuo.
Introdução: deve conter os temas que serão tratados no trabalho, além da justificativa e do objetivo do TCC.
Desenvolvimento: a principal parte do trabalho, que deve conter a exposição do assunto tratado de forma detalhada e completa.
Conclusão: é a finalização do trabalho, onde o autor recapitula o assunto e fala um pouco sobre os resultados.

Regras de formatação

Não sabe como formatar o trabalho de conclusão de curso? Então acompanhe a seguir as principais regras de formatação do TCC:
Numeração da página: a contagem começa na folha de rosto, mas só aparece a partir da introdução. Os algoritmos devem aparecer sempre no canto superior direito, a 2 cm da borda.
Margens: a superior e a esquerda devem ter 3cm de distância da borda. Já a inferior e a direita devem apresentar margem de 2cm.
Títulos: é importante que sejam escritos no tamanho 12 (sugestão de fontes: Arial ou Times New Roman).
Texto: o texto do TCC deve ser escrito com as letras no tamanho 12 e espaçamento de 1,5 entre as linhas.
Notas de rodapé: letras com tamanho menores que 12 e espaçamento simples.
Citações
Veja como fazer citações no seu TCC corretamente:
Direta: traz o sobrenome do autor em caixa alta, o ano de publicação e a página da citação.  Esta informação deve estar entre parênteses e separada por vírgulas. Se a citação tem menos de três linhas, então ela é feita no corpo do texto, contando com aspas duplas. Quando a citação tem mais de três linhas, ela deve ter um recuo de 4 cm com relação ao restante do texto, sem destaque de aspas.
Indireta: é uma citação feita dentro do próprio texto, só que deve conter sobrenome do autor e ano de publicação entre parênteses.
Para obter informações mais detalhadas, de acordo com a necessidade da sua citação, leia a NBR 6023: 2002 e NBR 10522: 1988.
Referências:
Livro: sobrenome do autor em caixa alta, nome do autor, título em negrito, edição, cidade, editora e ano de publicação.
Exemplo: PELCZAR JUNIOR, J. M. Microbiologia: conceitos e aplicações. 2. ed. São Paulo: Makron Books,. 1996.
Site: sobrenome do autor, nome do autor, título do texto, ano, link e data de acesso.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

COMPETÊNCIAS E APRENDIZAGEM



Como desenvolver as competências em uma organização? Para responder a esta questão é necessário percorrer o caminho que vai da aprendizagem individual, para a aprendizagem em grupo, para aprendizagem na organização.

Iniciando com o indivíduo, a questão que se coloca é: como eu aprendo?
Esta questão aparentemente simples implica uma viagem interior, que recupera momentos em que o conhecimento se mistura com a emoção, sinalizando situações positivas e situações tensas e angustiantes.

A aprendizagem é um processo neural complexo, que leva à construção de memórias. Aquilo que se aprende e depois se esquece é como se nunca tivesse acontecido; o conjunto de coisas de que nos lembramos constitui a nossa identidade. Como o coloca Izaquierdo (1997), o indivíduo é exatamente só aquilo de que se lembra; eu sou quem sou porque me lembro de quem sou, porque sei quem sou. Se não nos lembrássemos de nada, não seríamos alguém; por isso é tão trágica a fase final da doença de Alzheimer, ou a ignorância do próprio eu.

Aprendo lendo, aprendo ouvindo, aprendo errando, aprendo na prática, aprendo vivenciando a situação na minha cabeça, aprendo observando os outros. Inúmeras são as formas de aprender e cada pessoa se vê única nesse processo.
Cada espécie animal utiliza mais determinado tipo de percepção para aprender; o ser humano é predominantemente visual e verbal, utilizando aquilo que Pavlov (apud Izaquierdo, 1997) denominou o verbal ou simbólico, de preferência aos demais. A memória visual humana é maior que a auditiva, e a memória verbal-visual é maior que a oral. A quantidade de informações que pode ser adquirida na aprendizagem verbal-visual é maior do que a que pode ser retida pela comunicação oral. Um exemplo são as línguas transmitidas oralmente e que desaparecem, enquanto as línguas transmitidas pela escrita e leitura sobrevivem.

As emoções e os afetos regulam o aprendizado e a formação de memórias. As pessoas se lembram melhor daquilo que lhes despertou sentimentos positivos do que daquilo que lhes despertou sentimentos negativos e se lembram mal daquilo que as deixou indiferentes. As emoções contribuem fortemente na motivação para a pessoa aprender; parecem dar cor e sabor ao que aprende.
Aprendizagem pode ser assim pensada como um processo de mudança, provocado por estímulos diversos, mediado por emoções, que pode vir ou não a manifestar-se em mudança no comportamento da pessoa.

Os psicólogos enfatizam a necessidade de distinguir entre o processo de aprendizagem, que ocorre dentro do organismo da pessoa que aprende, e as respostas emitidas por esta pessoa, as quais podem ser observáveis e mensuráveis. Duas vertentes teóricas sustentam os principais modelos de aprendizagem: o modelo behaviorista e o modelo cognitivista.

. Modelo behaviorista: seu foco principal é o comportamento, pois este é observável e mensurável; partindo do princípio de que a análise do comportamento significa o estudo das relações entre eventos estimuladores e as respostas, planejar o processo de aprendizagem implica estruturar este processo em termos passíveis de observação, mensuração e réplica científica.
. Modelo cognitivo: pretende ser um modelo mais abrangente do que o behaviorista, explicando melhor os fenômenos mais complexos, como a aprendizagem de conceitos e a solução de problemas; procura utilizar tanto dados objetivos e comportamentais, como dados subjetivos, levando em consideração as crenças e percepções do indivíduo que influenciam seu processo de apreensão da realidade.

A teoria da Gestalt, precursora do cognitivismo, pesquisa o processo de aprendizagem por insights. "O indivíduo que tem um insight vê uma situação de uma nova maneira, que implica a compreensão das relações lógicas ou percepção das conexões entre meios e fins" (Hill, 1981).

As discussões sobre aprendizagem dos indivíduos em organizações se enraízam mais fortemente na perspectiva cognitivista, enfatizando porém as mudanças comportamentais observáveis. Como as pessoas aprendem e desenvolvem as competências necessárias à organização e ao seu projeto profissional?

Le Boterf (1995) propõe o seguinte quadro sobre o processo de desenvolvimento de competências das pessoas nas organizações:




CONSTRUINDO O CONCEITO DE COMPETÊNCIA DO INDIVÍDUO




Na perspectiva adotada, a competência não se limita a um estoque de conhecimentos teóricos e empíricos detido pelo indivíduo, nem se encontra encapsulada na tarefa. Segundo Zarifian (1999) a competência é a inteligência prática para situações que se apoiam sobre os conhecimentos adquiridos e os transformam com tanto mais força, quanto mais aumenta a complexidade das situações.

A competência do indivíduo não é um estado, não se reduz a um conhecimento ou know how específico. Le Boterf (1995) situa a competência numa encruzilhada, com três eixos formados pela pessoa (sua biografia, socialização), pela sua formação educacional e pela sua experiência profissional. A competência é o conjunto de aprendizagens sociais e comunicacionais nutridas a montante pela aprendizagem e formação e a jusante pelo sistema de avaliações. Segundo ainda este autor: competência é um saber agir responsável e que é reconhecido pelos outros. Implica saber como mobilizar, integrar e transferir os conhecimentos, recursos e habilidades, num contexto profissional determinado.

A competência individual encontra seus limites, mas não sua negação no nível dos saberes alcançados pela sociedade, ou pela profissão do indivíduo, numa época determinada. As competências são sempre contextualizadas. Os conhecimentos e o know how não adquirem status de competência a não ser que sejam comunicados e utilizados. A rede de conhecimento em que se insere o indivíduo é fundamental para que a comunicação seja eficiente e gere a competência.

A noção de competência aparece assim associada a verbos como: saber agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber engajar-se, assumir responsabilidades, ter visão estratégica. Do lado da organização, as competências devem agregar valor econômico para a organização e valor social para o indivíduo.







Defini-se assim competência: um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo.


O que significam os verbos expressos neste conceito? 

O quadro a seguir (inspirado na obra de Le Boterf) propõe algumas definições.